13 de outubro de 2016

Solidão Afortunada

Enquanto eu vir o sol luzir nas folhas
E sentir toda a brisa nos cabelos
        Não quererei mais nada.
Que me pode o Destino conceder
Melhor que o lapso sensual da vida
        Entre ignorâncias destas?
Sábio deveras o que não procura,
Que, procurando, achara o abismo em tudo
        E a dúvida em si mesmo.
Pomos a dúvida onde há rosas. Damos
Quase tudo do sentido a entendê-lo
        E ignoramos, pensantes.
Estranha a nós a natureza extensa
Campos ondula, flores abre, frutos
        Cora, e a morte chega.
Terei razão, se a alguém razão é dada,
Quando me a morte conturbar a mente
        E já não veja mais
Que à razão de saber porque vivemos
Nós nem a achamos nem achar se deve,
        Impropícia e profunda.



Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

–– Ricardo Reis


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